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POEMAS V - O Pequeno Pássaro

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POEMAS V - O Pequeno Pássaro

 

 

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ENCERRAMENTO

Este é o poema de um pássaro que sonha com a liberdade.

Uma liberdade que ele só conhece através de devaneios

                     O PEQUENO PÁSSARO

Muitas vezes foi ouvido naquele lugar
um canto triste.
Era o lamento de uma ave
que estando presa numa gaiola,
fortemente cercada por grades,
fazia de companheira constante
a triste melodia que emitia,
tantas vezes repetida, na sua forma de expressar,
que necessitava mais do que tudo
de conquistar a liberdade...
Que precisava voar, sentir a brisa,
ver o mar, alcançar o infinito,
ter a sensação de pousar

num galho de uma árvore qualquer,
sentir a textura das folhas, bicando-as levemente,
manchando de verde a ponta do bico,
após fazê-lo, feliz, poder banhá-lo na beira de um rio.
Então, finalmente poderia dizer:                            
- "A partir de hoje, da vida me alimento!"
Sonhava em não depender da vontade alheia,
fazer o que lhe desse na cabeça,
o que viesse trazido pelo vento
da liberdade que ainda sonhava alcançar.
 

Era difícil até mesmo pensar nisso.
Ninguém se importava se ele tinha divagações.
Só viam se tinha comida e água,
se estava bem, se não estava doente,
se o seu trinado estava mais bonito,
embora nem se importassem
em saber se havia um motivo para ele cantar.
Aquela era a família que ele tinha,
que por força do destino aprendera a conviver.
Nada lhe faltava, pelo menos pensavam,
pois se tinha alimentação adequada,
se estava cantando todos os dias,
um canto maravilhoso, que inebriava a todos
que estivessem dentro de casa, nada estava errado
com aquela criaturinha meiga,
nada a fazia ficar triste,
afinal, a gaiola estava sempre bem arrumadinha
e, porque não tinha o que pensar ou querer,
vivia a cantar muito,
porque disso se constituía a sua vida.

 

Essa é a família que, bem ou mal,
o pássaro se viu obrigado a conviver.

Um dia, quem o prendia,
o garoto que era o seu " dono" ,
por uma causa desconhecida pela ave,
provavelmente por ter se cansado daquele "brinquedo",
talvez por estar cansado de ouvir a mesma melodia,
ou de ver as mesmas cores nas penas que o cobriam,
levou-o para o bosque onde o capturara. Colocou a gaiola no chão,
então abriu a porta da prisão para o pequeno sair.
Pequeno no tamanho e na vida que levara, quase nenhuma,
era muito bonito, afinal, as penas coloridas o enfeitavam,
no entanto só de imaginação consistia
o mundo interior que o habitava,
uma vez que a tudo o que circundava a clausura, desconhecia.
O garoto olha para ele, enquanto se afasta aos poucos,
falando para o animalzinho: - "Vá embora! Você agora está livre!
- Vá procurar a sua turma, os colegas,
a sua família, que deve estar em algum lugar!
- Adeus! Seja feliz!"
Parecia uma atitude de amor,
mas o pássaro só acreditava na opressão
daquele garoto que sempre o prendera.
Até que o menino se afastou de vez e deixou aberta a gaiola,
deixando uma grande ansiedade pelo futuro no prisioneiro,
pelo fato de ter sido deixada a porta da gaiola aberta.

A prisão finalmente tinha terminado
e o pássaro começou a sonhar.
Sonhos de voos distantes,
acima das nuvens, além do horizonte...
Pensou que, enfim, poderia ir até o mais alto ponto

que suas asas pudessem levá-lo,
ao apogeu, à plenitude, sobrevoando as nuvens,
dirigindo-se até a mais distante ilha,
apreciando o azul do mar enquanto estivesse voando,
para banhar-se na areia da praia ao chegar nesse local distante;
depois sair sem rumo certo, sem paradeiro definido,
ao invés de ficar restrito a um cubículo.
- "Isto aqui, nunca mais!" - Afirma, contente.
Agora, queria somente sentir a brisa da natureza nas penas,
o sereno, o orvalho da noite,
voar por todos os lugares
conhecendo sempre novas paragens,
fazendo inúmeras amizades,
incontáveis em cada lugar passado,
trocar trinados com pássaros viajantes, iguais a ele,
enfim, ter com quem conversar.

O mar e a sensação de voar sem rumo
à procura de lugares desconhecidos

O pássaro continua nutrindo devaneios.
Pensa agora no amor:
- "Uma passarinha há de ouvir quando eu cantar!"
Essa vida, que levo de celibatário, é muito triste.
Dia e noite preso numa gaiola
sem um canto feminino do lado,
sem um olhar derretido,
sem alguém para dividir o ninho,
se é que posso chamar o lugar que eu moro de ninho...
Grades por todos os lados, chão frio, de metal,
alface, quiabos e alpiste numa pequena vasilha...
água numa vasilha maior,
dois poleiros para que eu possa saltar de vez em quando
para dizer que me movimento,
um teto de zinco, que faz uma abóbada retangular,
que representa o pequeno céu que me pertence,
uma grade permanente
e sol, não nas ocasiões que tenho vontade de sair,
mas apenas quando alguém está disposto a tirar-me um pouco de casa
para um breve passeio, quando o tempo deles permite.

No entanto, isso agora tinha acabado. Por que remoer o que já passou?
O pássaro se aproxima da porta. Olha em todas as direções. Diz:
- "Como é bela a natureza!
- Agora eu percebo melhor como a natureza é bela!
- Nem sei para onde vou, o que vou fazer...
- Porém tenho que ir em frente. Tenho que aprender a viver!"
Não eram infundáveis as preocupações que ele tinha.
Afinal, quando ainda aprendia a voar,
quando ainda era bem mais novo, caiu numa arapuca.
Foi capturado e nunca mais saiu da prisão.
A mãe e os irmãos até já devem ter esquecido dele,
sendo que aquilo que aprendia com ela, foi interrompido.
As primeiras lições, que adquiriu sobre a sobrevivência,
por falta de uso, cairam no esquecimento.
Ignorava para onde ir, e também como pisar no chão.
Não tinha pedras na gaiola, muito menos espinhos nos poleiros.
Tinha hora certa para comer,
a água era trocada regularmente...
Na verdade, quanto à fome e à sede ele não se sentia preocupado.
Ali, naquele lugar, no entanto, nem sabia onde encontrar água.

A alegria pela sensação da reconquista da liberdade
começou a se transformar em medo.
Não se sentia preparado para voar mais alto que o teto da gaiola,
aliás, nem sabia se ainda podia voar.
Apenas saltava de um poleiro para outro.
Voar era bem mais complicado.
Tinha que bater as asas, erguer o corpo, manter-se no ar...
Ignorava como fazer essas coisas. Pelo menos, esquecera como se fazia.
Ademais, e se fosse atacado por algum bicho?
Se sofresse algum atentado?
Não poderia se esconder indefinidamente dentro de uma gaiola,
principalmente uma gaiola com a porta aberta,
que não o protegeria, e sim o entregaria para o inimigo.
E quando quisesse comer? Como faria? Onde encontraria comida?
O medo começa a virar pânico
quando o sol vai desaparecendo no horizonte.
- "E agora? Vai anoitecer. Vou ficar exposto aqui!"
Após essa constatação, o pássaro se encolhe num canto da gaiola,

começa a chorar, começa a sentir fome,

sabe que não tem alpiste na vasilha,
e num último lamento, antes de um choro mais forte, ele exclama:
- "SERÁ QUE O MEU PEQUENO DONO

NÃO VAI VOLTAR PARA ME BUSCAR?"

A tarde vai findando. A noite virá em breve.

O que acontecerá com o pequeno pássaro?

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